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Para especialista, modelo de governança corporativa alemã é possível de ser adotado no Brasil

Pensar nas gerações futuras, deliberar de forma coletiva e respeitar as leis são os desafios

iStockphoto.com / Ruskpp O país precisa mudar alguns comportamentos para adotar o estilo alemão de governança.

Imitar uma das maiores potências econômicas do mundo parece um desafio muito grande aos brasileiros. Sobretudo no que se refere aos costumes e práticas culturais, que parecem ser intrínsecas aos latinos.

Telmo Schoeler, sócio-diretor da Strategos Consultoria Empresarial e presidente da Orchestra Soluções Empresariais, explica que para usar a Alemanha como espelho de governança corporativa vai ser necessária uma drástica mudança de conceitos comportamentais e reflexão de valores. “E, para que isso dê certo, não precisamos de novas leis, mas de força de vontade”, conclui.

Para compreender o contexto destas afirmações, antes é necessário adentrar em um aspecto invejável da vida alemã: a economia.

A Alemanha concentra a maior economia dentro do continente europeu e a terceira em escala global – fica atrás apenas dos EUA e Japão. No mundo empresarial, engloba cerca de 3 milhões de empresas – número expressivo para um país com 80 milhões de habitantes-, das quais cerca de 4.000 são consideradas grandes, por terem mais de 500 funcionários, e mais de 2 milhões de micro e pequenas empresas, essencialmente familiares, formadas por associação de capital de duas ou poucas pessoas, só para citar alguns exemplos.

A capacidade de manter o vigor diante de crises e após as guerras, suas leis e costumes particulares justificam os conceitos formados e aqui exemplificados por Schoeler. “A Alemanha é um país estável, organizado e regulado, sustentado por um sistema financeiro compatível com esse cenário”, diz.

Schoeler destacou alguns princípios básicos da governança corporativa alemã que podem – e devem – dar certo no Brasil, e foi bastante pontual em sua síntese. “É preciso ter o resultado como objetivo, gerações como perspectiva, o coletivo como referência e a lei como base”.

O especialista também destacou outros três princípios:

Raciocínio de gerações

De acordo com Schoeler, a Alemanha tem como base uma educação qualificada acessível a todos e uma preocupação iminente com as gerações futuras. Ali são reguladas e criadas regras para sucessão de capital e o que prevalece é uma ampla visão de dinastia, com foco na valorização do patrimônio familiar a ser preservado e desenvolvido para benefício das próximas gerações. “O resultado disso é a formal e evidente transmissão e preservação de valores e princípios”, diz.

Deliberação coletiva

No Brasil, a governança corporativa é inspirada em um modelo angloamericano. Em que, por exemplo, a decisão de um presidente/CEO dentro de uma empresa prevalece sobre todas as outras forças da esfera. “Lá existe a lógica da busca pelo consenso. Quando tentamos aplicar esse conceito aqui, a dificuldade que encontramos é quando nos deparamos com personalidades intempestivas”, diz.

Respeito irrestrito às leis

Por último, não menos importante, mas mais difícil de ser aplicada, segundo Schoeler, está ligado à relativização da lei. “No Brasil, há uma cultura equivocada de que a lei pode ser interpretada. Na Alemanha, o que é lei é lei. E o que vale para um, vale para todos”, explica.

De acordo com o especialista, todo regulamento desenvolvido e aplicado para fazer com que a sociedade ou uma organização funcione deve ser respeitado e que esta é uma dificuldade altamente presente em nosso país. “O regulamento estabelecido dentro de um clube, por exemplo, é uma, e essa lei precisa ser respeitada, independe do sujeito que pratica a ação. O que vale para um, tem que valer para todos”, completa.

E finaliza: “O brasileiro ainda está muito focado na cultura do ego. Para que essas modificações deem certo aqui, será necessário que os líderes olhem para além de suas finitudes individuais.”

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