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Série Autossabotagem 1/10: melhores resultados para além do perfeccionismo

© Depositphotos.com / photography33 O excesso de perfeição na realização das atividades pode comprometer a produtividade.

No meu artigo para a coluna de novembro, escrevi sobre um tema que afeta a todos nós: a autossabotagem. O artigo (“Por que você se sabota tanto?”) repercutiu bastante e muitas pessoas me procuram até hoje, incomodadas com o quanto estão se sabotando e querendo saber mais e como podem melhorar.

Em suma, a autossabotagem é uma questão universal e afeta 100% das pessoas, fazendo com que apenas 20% delas alcancem seu verdadeiro potencial. Ou seja, não é uma questão de se sabotar ou não, e sim o quanto e onde você está se sabotando.

Basicamente, como explico no artigo anterior, existem 10 formas diferentes das quais você pode se atrapalhar. Dada a grande importância e repercussão sobre este tema, resolvi escrever uma série de 10 artigos rápidos, com casos reais, dicas práticas de cada um destes mecanismos e formas de agir e também como melhorar em cada um destes sabotadores. Identifique na lista de 10 itens ao final do artigo anterior, qual o sabotador que mais se assemelha ao seu comportamento, tanto pessoal quanto no trabalho.

Vamos ao primeiro deles.

1º Sabotador: O Insistente – perfeccionismo, ordem e organização levadas ao extremo

Esta forma de se sabotar é muito comum em pessoas que prezam pela excelência e alta qualidade em tudo o que fazem e não suportam errar. Em todas as áreas e atividades da vida, os padrões são elevadíssimos e, em contrapartida, geralmente estas pessoas levam muito mais tempo para fazer e realizar suas atividades, já que todas devem estar impecáveis e à prova de erros.

O tempo que você leva para entregar tarefas e atividades sob sua responsabilidade, comparado com o tempo de outras pessoas da sua área ou equipe, é um bom indicador para mostrar se está agindo com este comportamento ou não.

Trabalhei com uma cliente que fez Coaching de Carreira comigo, que estava profundamente infeliz com sua rotina e trabalho. Ela não tinha tempo nenhum para si, suas atividades ou vida social, e cogitava uma mudança radical de carreira, em busca de um trabalho que consumisse um pouco menos de tempo e energia dela.

Trabalhamos seus sabotadores e identificamos que ela possuía o Insistente, este sabotador que estamos analisando agora. Praticamente 100% dos seus relatórios, planilhas e tarefas entregues eram feitos com perfeição e impecabilidade extrema. Ela percebeu que, inconscientemente, precisava revisar cada atividade inúmeras vezes antes de entregar. Como ela não perdia nenhum prazo, passava o dia anterior revisando e aperfeiçoando o trabalho.

Até e-mails simples e rápidos ela estudava e analisava a melhor forma de compor as palavras, levando um tempo grande para enviá-lo. Ela estava ocupada e se esforçando o tempo todo, mas realmente produzindo por um pequeno período.

Propus um exercício de uma semana, para ela se observar e contabilizar no celular todo o tempo “extra” que ela gastava revisando o trabalho a partir da 2ª revisão em busca de erros. Pedi também para contabilizar em quantas destas revisões, a partir da 2ª vez, que ele encontrou algum erro. O resultado? Foi surpreendente! Em uma semana ela gastava em média duas horas a mais por dia nesta atividade. E não encontrou nenhum erro a partir da 2ª revisão! Em média, eram 10 horas por semana que ela gastava com um comportamento que não trazia nenhum resultado efetivo. Mais do que um dia útil de trabalho!

O trabalho com ela, assim como com todos que possuem este sabotador, em linhas gerais é entender que fazer as coisas com excelência é sim muito importante, mas não em tudo, incluindo as outras áreas da sua vida. Existem atividades menos importantes que não precisam estar perfeitas e à prova de erros, como e-mails rápidos, algumas planilhas e relatórios que não precisam ser apresentados como uma tese de doutorado para uma banca examinadora detalhista. Um outro cliente de Coaching contabilizou 45 minutos diários gastos em excedente aperfeiçoando planilhas simples, que apenas ele iria usar, e em quase 100% das vezes usou apenas uma vez. Mais de 4 horas semanais desperdiçadas.

Muito do trabalho do perfeccionismo é irrelevante para a tarefa que está sendo desempenhada e consome tempo precioso que poderia ser investido em outras coisas, desde produzir mais resultados até aproveitar mais as outras áreas da sua vida.

Em menos de 3 semanas, esta cliente da história conseguiu reduzir de 2 horas diárias para menos de 30 minutos diários o tempo gasto com revisões e aperfeiçoamentos! De um total de 10 horas por semana, ela passou para 2h30 semanais, quase um dia útil de trabalho de ganho. Ela encontrou o equilíbrio com ela mesma, aumentou consideravelmente sua satisfação com seu trabalho sem precisar de uma grande mudanças de carreira e conseguiu se organizar para fazer as outras atividades que sentia alegria em sua vida.

Relacionamentos

Este sabotador é também causador de grande sobrecarga. Faz a pessoa se responsabilizar por todas as atividades de outras pessoas, já que estas não possuem padrões tão elevados de excelência como ela. O sabotador obriga você a fazer todo ou a maior parte do trabalho que seria de outros, para compensar a negligência ou preguiça deles. Pense em trabalhos em grupo na escola ou faculdade, isto acontecia com você? E no seu trabalho?

Outro ponto a se observar é: por ser muito crítico consigo mesmo e com os outros, este sabotador pode gerar muita frustração consigo mesmo e com as pessoas ao redor. As pessoas com as quais convive podem se sentir continuamente criticadas, já que não importa o que façam, jamais vão agradar o sabotador Insistente. A sensação é de que existe um jeito certo óbvio e um jeito errado óbvio de fazer as coisas, e o Insistente sabe o jeito certo.

Lembre-se: é importante, sim, fazer as coisas bem-feitas. Esteja ciente de que não são todas as atividades que exigem um altíssimo padrão de qualidade, então concentre sua energia nas poucas atividades que realmente precisam de excelência. O perfeccionismo causa rigidez e consome tempo e esforço preciosos, logo você não precisa corrigir todos os erros que encontrar e que não foram sua responsabilidade.

Reflexão e Prática

Você se identifica com o Insistente? As pessoas ao seu redor sentem-se continuamente criticadas por você por não fazer as coisas “direito”? Você leva mais tempo que os outros para entregar as atividades? Você faz mais coisas que os outros, pois acredita que eles não vão fazer tão bem quanto você?

Por uma semana, contabilize em horas quanto tempo você gasta revisando e aperfeiçoando suas atividades além do necessário para aquela situação. Anote num papel ou no celular o tempo gasto. Contabilize também quantas vezes encontrou erros ou grandes correções que precisasse fazer. Acredite, o resultado, tenho certeza, vai te surpreender!

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